21 de junho de 2016

Opinião – “Rainha do Deserto” de Werner Herzog


Sinopse


Gertrude Bell (Nicole Kidman) nasceu na Inglaterra, mas fez fama devido ao seu trabalho no Oriente Médio. Escritora, arqueóloga, cartógrafa e exploradora, ela passa também a trabalhar para o governo britânico como seu representante na região. Logo faz amizade com T.E. Lawrence (Robert Pattinson), mais conhecido como Lawrence da Arábia, que também tem presença marcante no local. Com o tempo, Gertrude acaba participando da criação dos estados da Jordânia e do Iraque.

Opinião por Artur Neves

Werner Herzog, um realizador com créditos firmados em documentários, onde o autor investiga de maneira completa e profunda a natureza humana e as complexidades da sua psique conseguindo “retratos” bem detalhados como em; “O Homem Urso” ou A Gruta dos Sonhos Perdidos”, traz-nos desta vez a biografia romanceada de Gertrude Margaret Lowthian Bell, também conhecida por; “A mãe do deserto” onde a fórmula utilizada não surtiu o efeito conseguido noutras obras.
Gertrude Bell, uma britânica de boas famílias, bem-nascida e criada, formada em letras e escritora por vocação, seguiu os seus impulsos de viajar pelo mundo, tendo-se tornado, entre outras coisas; política, administradora, espia ao serviço do Império Britânico e principalmente uma mulher do mundo. Na sua actividade estabeleceu relações intensas pelo Médio Oriente, onde conheceu líderes instalados e futuros reis em ascensão, não deixando indiferente ninguém com quem se cruzava. Viveu diferentes amores com vários parceiros, tendo todavia conseguido durante toda a sua vida o respeito e a consideração dos seus pares, sendo ainda hoje recordada com carinho e admiração pelos sucessos conseguidos na época em que viveu.
É pois esta personalidade que Werner Herzog nos tenta mostrar, e digo… tenta, porque não acho que tenha conseguido. O filme envereda pelo lado romântico, onde comercialmente poderá ter mais sucesso, mas o personagem interpretado por James Franco que tenta ser delicado e apaixonado, aparece-nos trôpego e piegas. O actor é excelente, presumo que a culpa não será dele mas antes do papel que o realizador que também é autor do argumento, lhe entregou. Nicole Kidman não apresenta a força e determinação que o personagem deveria ter, muito embora no capítulo da sedução não esteja mal, mas naquele contexto as “coisas” devem ter-se passado de outra maneira. O beijo de Gertrude Bell ao seu apaixonado no momento, em pleno deserto, a retracção e o medo com a visão do abutre no alto da torre não têm densidade, cheiram a coqueteria que Gertrude não deveria possuir.
Por oposição, nos ataques dos guerreiros do deserto e em momentos de tensão, a solução fica-se pelo charme feminino da personagem e pela sua capacidade de convencimento dos seus opositores. Robert Pattinson constrói um T.E. Lawrence (Lawrence da Arábia entre nós) divertido e popular mas que não convence, falta-lhe “espessura” e densidade para os feitos que posteriormente a história lhe atribui.
A história vale como divulgação de um personagem marcante do século XX mas o filme não deve ser levado muito a sério, embora constitua o documento possível sobre Gertrude Bell. Os decors e planos de exterior reproduzem o contexto e a história interessa enquanto dura. Os actores são competentes embora os papéis sejam fracos e não damos pelo passar do tempo, como tal se lhe despertei alguma curiosidade o melhor é ir ver.
Classificação: 5 numa escala de 10

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