29 de abril de 2016

Opinião – “Suburra” de Stefano Solima


Sinopse


Conhecido como Samurai, um gangster deseja transformar a orla de uma pequena cidade perto de Roma numa nova Atlantic City repleta de assassinos. Um político corrupto apaixonado por prostitutas e cocaína protege o criminoso com a ajuda de um influente cardeal. Os chefes da máfia local concordam com o projecto e trabalham para esse objectivo em comum, porém uma guerra entre gangues parece acabar com os futuros sonhos de Samurai.

Opinião por Artur Neves

Não constitui surpresa para ninguém os contornos obscuros da santa aliança entre o dinheiro, a política e o clero que se reflectem nesta história passada em Roma no tempo presente, durante a convulsão política do último governo de Sílvio Berlusconi baseado no romance homónimo de Giancarlo de Cataldo, juiz de profissão além de escritor e Carlo Bonini, jornalista de investigação e escritor reconhecido por várias obras. Por tudo isto, somado com a experiencia de Stefano Solima em filmes e série sobra a Máfia só poderia resultar no excelente resultado que vos trago hoje e que desde já recomendo.
A acção desenvolve-se na pompa e no luxo da prostituição fina ao serviço da classe dominante, bem como no submundo do tráfico de droga e da marginalidade social, em que os últimos servem os primeiros, com eles se envolvem e até os dominam e controlam para atingir os seus objectivos a qualquer preço.
Nesta história não há heróis, todos estão mergulhados no mesmo caldo espesso da traficância e na concupiscência que relatos anteriores já nos testemunharam das décadas de 60 e 70 na Itália contemporânea. Todos os personagens transmitem uma gritante falta de ideais nobres, de esperança ou de soluções para os dramas quotidianos que vivem, não se importando sequer em denunciá-los mas somente em vivê-los e obter as suas vantagens da melhor maneira possível.
Tudo o que os motiva é o dinheiro e o poder, transversalmente por todas as classes envolvidas que Solima filma sem rodeios, sem falhas de continuidade, nem omissões, nunca defraudando o espectador nem criando dificuldades para a compreensão da história que decorre num tempo diluviano, sob um céu cor de chumbo, mas ainda assim insuficiente para lavar a ignomínia e os negócios escuros entre deputados parlamentares influentes mas corruptos, famílias mafiosas rivais, empresários da noite e o clero, representado por um dos seus membros sem escrúpulos nem decência.
Tudo se passa enquanto chove copiosamente lembrando o ambiente de “Seven” e criando uma progressiva degradação recheada de ameaças, assassínios, chantagem, raptos à luz do dia, construindo um suspense denso e credível que nos prende durante todo o tempo e justifica a minha recomendação, como sendo um dos melhores filmes que ultimamente tenho visto. O tema da história pode não agradar a todos, reconheço… mas contra isso não tenho solução.
Classificação: 8,5 numa escala de 10

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