28 de novembro de 2015

Opinião - "Carrie", de Stephen King


Título: "Carrie"
Autor: Stephen King
Editora: Bertrand editora 

Sinopse:
"Carrie era a ave rara da escola; aquela que era trapalhona nos jogos, a que a roupa nunca assentava bem, que nunca percebia uma anedota.
E por isso tornou-se o alvo da chocata e da crueldade dos outros adolescentes, que a confundiam e magoavam ao mesmo tempo. O único consolo, embora escasso, era o seu jogo secreto, mas como tantas outras coisas na vida de Carrie, era pecaminoso. Ou pelo menos era o que a mãe afirmava. Carrie conseguia fazer mexer os objectos - concenrtrando-se neles, desejando que se movessem. Pequenas coisas, como berlindes que começavam a dançar. Ou caía uma vela. Fechava-se uma porta. Este era o seu jogo, o seu poder, o seu pecado, firmemente reprimido como tudo o resto na sua vida. Um acto de ternura, tão espontâneo como as piadas maldosas das colegas de turma, permitiu que Carrie olhasse para si própria de maneira diferente na noite fatídica do baile de finalistas. Mas outro acto - de uma crueldade feroz - mudou para sempre o rumo das coisas e transformou o seu jogo clandestino numa arma de terror e destruição. Ela fez cair uma acesa e trancou as portas..." 

Opinião por João Barradas:
Quão estranha pode ser essa aventura da descoberta do corpo, a que muitos chamam de puberdade? Bastante... quiçá até um pouco destrutiva!
Na vida melancólica e rotineira de um colégio, sempre existiu, existe e existirá (a menos que muitas mentalidades mudem...) uma hierarquia estruturada, com base no poder conquistado pela força... ou direi pelo bullying! E são a segregação por ele motivado e as suas consequências que dão mote a esta história, numa luta desequilibrada entre o fanatismo religioso e a não-aceitação dessa âncora de fé. Ilustrando a famosa expressão de "quão cruéis e diabólicas podem ser as crianças" (a até mesmo os jovens, numa tentativa de auto-afirmação e reivindicação de uma identidade própria), o leitor depara-se com as travessuras e diabruras de toda a escola face a uma "pobre inocente" mal escolhida, ou não fosse o alvo da chacota, a portadora de um gene responsável por um poderoso dom: a telecinesia. Claro que chega a altura em que culpados tentam remediar toda a situação, como meio de expugnarem os seus pecados, mas tarde de mais... as pequenas coisas fazem mesmo toda a diferença (até mesmo um simples voto) e tudo termina num apocalipse incontrolável, com o pagamento de todas as dívidas em fiança e a responsabilização pelos actos cometidos apenas pelo poder dos pensamentos...A leitura é dinâmica, devido sobretudo à utilização de vários planos narrativos (a narração da própria história, os relatórios dos inquéritos policiais, as citações de obras baseadas no casos, as mensagens de pedido de ajuda, ...) que permitem ao leitor um total e abrangente conhecimento dos factos, para além de incutirem um realismo aos factos relatados. Para além disso, as referências a outras obras (Macbeth, a sonâmbula) e os tons irónicos (a morte da avó, portadora do dom, aos 66 anos e o pensamento de Carrie sobre "entregar a própria cabeça quando a polícia lhe pedir para entregar a arma de ataque") permitem uma fuga cómica, por vezes necessária para esfriar o clima sufocante.Interessante é também a abordagem genética deste dom: desde a tentativa de produção de testes identificativos do padrão responsável até à incerteza da conduta face aos resultados (a eterna questão do que fazer realmente com um resultados patológico, quando não temos alternativas terapêuticas a oferecer aos seus portadores).No final, há que ceder... porque fazer mal está no sangue e não há freno que aguente a derrapagem em chão molhado!

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