25 de julho de 2012

Dom Quixote e Goethe-Institut trazem Herta Müller a Lisboa em Setembro

A escritora Herta Müller, vencedora do Prémio Nobel da Literatura em 2009, estará em Lisboa, de 10 a 14 de Setembro, a convite da Dom Quixote e do Goethe-Institut, para apresentar o romance Já Então a Raposa Era o Caçador. A sessão de apresentação da obra está marcada para dia 13 de Setembro, às 18h30, no Goethe-Institut, e será seguida por uma conversa com a escritora Lídia Jorge, moderada por João Barrento.

Antes disso, a partir do dia 6 de Setembro, estará patente, na Biblioteca Camões, a exposição O Círculo Vicioso das Palavras, que documenta o percurso da autora, desde a sua infância na Roménia até à atribuição, em 2009, do Prémio Nobel da Literatura.

A obra literária de Herta Müller está atravessada pelos horrores do totalitarismo e os efeitos que os mecanismos de manipulação e opressão provocam na vida de cada indivíduo. Herta Müller, nascida em 1953 numa aldeia de minoria alemã na Roménia, escreve sobre uma realidade que ela conhece desde pequena: o seu pai fora oficial das SS, a sua mãe pertenceu aos milhares de romenos alemães que foram deportados para os campos de trabalhado forçado na União Soviética e até o seu nome próprio deve-se a uma amiga da mãe que morreu à fome no Gulag. Em jovem, Herta Müller fez parte de um grupo de autores contestatários do regime, intitulado “Banat” e, mais tarde, veio a perder o seu emprego como tradutora numa fábrica de máquinas por se ter recusado a colaborar com a polícia secreta do regime, a Securitate.

A sua estreia literária, em 1982, com o livro de contos Niederungen, que descreve a vida asfixiante numa aldeia de minoria alemã, a partir do olhar de uma criança, foi de imediato censurada pelo governo comunista da época. Mesmo depois de se ter exilado em 1987, na Alemanha, a escritora continuava a receber ameaças de morte.

No romance Já Então a Raposa era o Caçador, que a Dom Quixote agora publica, e que chegará às livrarias a 10 de Setembro, a Nobel da Literatura recria o ambiente opressivo e angustiante, durante os últimos dias do regime totalitário de Nicolae Ceaucescu. A acção decorre num subúrbio na Roménia e a história gira em torno da professora Adina e a sua amiga Clara, uma operária fabril que se apaixona por um agente da polícia secreta. Quando o agente manda vigiar o grupo de músicos do qual Adina faz parte, a amizade entre as duas mulheres desfaz-se. É então que, em casa de Adina, aparece uma pele de raposa que progressivamente vai sendo mutilada e a professora sabe que está a ser ameaçada pela polícia secreta romena.

No âmbito da vinda a Lisboa de Herta Müller, o Goethe-Institut organizou a exposição O Círculo Vicioso das Palavras, que poderá ser visitada entre os dias 6 e 28 de Setembro na Biblioteca Camões. Esta mostra reúne documentos e fotografias pertencentes ao património da família de Herta Müller e contempla ainda entrevistas onde a escritora fala sobre a sua vida na Roménia e na Alemanha, sobre a sua emigração e a sua escrita. A exposição integra ainda documentos dos serviços secretos da Securitate e colagens de Herta Müller, criadas a partir dos anos 80 e que revelam uma faceta menos conhecida da sua vida e obra.

Herta Müller ganhou notoriedade internacional a partir dos anos 90, quando os seus trabalhos começaram a ser traduzidos para mais de 20 idiomas. Para português foram traduzidos os livros O Homem é um Grande Faisão Sobre a Terra e A Terra das Ameixas Verdes.

Com a chancela da Dom Quixote, recorde-se, foram publicados os seguintes romances:

Tudo o Que Eu Tenho Trago Comigo (Junho 2010)
 Roménia no fim da guerra. A população alemã vive com medo. “Eram 3 da madrugada do dia 15 de Janeiro de 1945 quando a patrulha me foi buscar. O frio apertava, estavam -15º C.” O jovem narrador começa assim o seu relato. Tem cinco anos diante de si, dos quais ainda nada sabe. Cinco anos, ao fim dos quais regressa um homem diferente. Herta Müller relata experiências que marcam os sobreviventes para toda a vida. Foi a partir de muitas conversas com Oskar Pastior, e outros sobreviventes do campo de trabalho, que a escritora reuniu o material que está na base deste grande romance. “Os livros de Herta Müller desencadeiam uma torrente poética que arrebata a mente do leitor”, escreveu Andrea Köhler no jornal Neue Zürcher Zeitung, “a sua linguagem é talhada numa outra cepa, diferente da plantinha mimada que caracteriza largos sectores da literatura alemã contemporânea”. Através da história profundamente individual de um homem jovem, consegue narrar-nos, com a força de imagens inesquecíveis, um capítulo ainda quase desconhecido da história europeia.

Hoje Preferia Não Me Ter Encontrado (Agosto 2011)
“Fui intimada.” Na viagem de eléctrico que a leva às instalações da Polícia Secreta, hora marcada, dez em ponto, a jovem narradora vê a sua vida passada em revista: a infância na cidade de província, a fixação semierótica do pai, a deportação dos avós, o casamento ingénuo com o filho do “comunista perfumado”, a felicidade precária que vive com Paul, apesar do fardo que a bebida impõe ao amor que ela lhe dedica. No exterior: marcações intransigentes, paragens, passageiros que entram e saem, o desfilar das ruas. Tudo pretende distrair a sua atenção, que constantemente regressa ao ponto de partida: “Fui intimada.” Quase chegada ao destino, levanta-se de repente uma altercação no carro eléctrico que leva o guarda-freio a saltar precisamente a paragem em que devia sair. Vê-se então numa rua desconhecida, onde descobre Paul com um velho de aspecto suspeito. Decide então não comparecer ao interrogatório.

Em Hoje Preferia Não Me Ter Encontrado, Herta Müller interroga tudo, de forma dura e sem piedade, não se colocando no exterior do objecto de análise. Todos são vítimas e culpados da alienação da liberdade individual. Os vigiados também vigiam e os vigilantes têm medo de ser vigiados.

Herta Müller, nascida em 1953, em Nichidorf (Roménia), vive em Berlim desde 1987. Estudou Filologia alemã e romena em Temeswar e, desde 1995, é membro da Academia Alemã de Língua e Literatura de Darmstadt, Antes de ir para a Alemanha, Herta Müller esteve exposta continuamente aos interrogatórios, registos domiciliários e ameaças da Securitate, o Serviço Secreto romeno.

Entre os prémios que recebeu, destacam-se o Impac Dublin Literary Award, em 1998, o de Literatura de Berlim 2005, o Würth de Literatura Europeia 2005, o de Literatura de Walter Hasenclever 2006, o Franz Werfel de Direitos Humanos 2009, o Prémio Nobel de Literatura, em 2009, e o Hoffmann von Fallersberg 2010.

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