28 de fevereiro de 2011

Entrevista a Daniela Pereira


Entrevista:

Começaste a escrever com que idade?
Comecei a escrever muito cedo. Sempre tive um gosto enorme pelas palavras e desde de miúda que adorava inventar pequenas histórias.No entanto se a tua pergunta se refere a uma escrita mais séria,foi só por volta de 2004 que comecei a escrever num blog o Devaneios Azuis e a participar em alguns fóruns literários. Foi através do blog que comecei a partilhar os meus pensamentos, geralmente escrevia essas ideias e sentimentos em poesia.Em 2005 surgiu a oportunidade de editar alguns desses poemas no livro Cortar as palavras num só golpe. E a partir daí nunca mais parei.

Como surgiu este sonho de escrever um livro?
É uma boa pergunta...acho que só me senti capaz de mostrar os meus textos a partir do momento em que senti que as pessoas se identificavam com as palavras que escrevia. Aí senti que seria bom conseguir fazer com que essas palavras...com que esses pedaços de mim chegassem a mais pessoas.Principalmente às pessoas que tanto carinho e apoio me davam ao mostrarem-me que elas mesmo já tinham sentido os mesmos medos,as mesmas desilusões,as mesmas dúvidas que eu ali exibia para o resto do mundo.Quando escrevemos um livro acho que o maior sonho para um escritor é sentir que as suas palavras têm um sentido para o leitor,que o leitor as consegue entender e acima de tudo que as consegue sentir também um pouco suas.

Foi fácil te lançares no mundo literário?
Bem... ainda não me considero lançada no mundo literário. Preciso crescer muito ainda... como autora mas sobretudo como pessoa.
Iniciei a aventura da escrita pela poesia, tenho dois livros editados com a poesia de fundo..o livro “Cortar as palavras num só golpe” da Corpos Editora de 2005, em 2007 editei o livro Afectos Obsessivos pelas Edições Ecopy e pouco tempo depois fiz a participação numa colectânea poética. Este ano com o livro “Já não se fazem Homens como antigamente”, tive a oportunidade de explorar um género de escrita bem diferente...com um fundo humorístico e de sátira social,uma escrita mais leve e de fácil leitura.

Fala-nos um pouco deste teu livro “Já não se fazem homens como antigamente”.
A minha partipação neste projecto, surgiu por um convite que o escritor João Pedro Duarte me fez. O João estava à procura de escritores que colaborassem com histórias relacionadas com as mudanças comportamentais dos homens e das mulheres nos seus relacionamentos. Para falar um pouco da evolução da mentalidade humana...de relacionamentos rápidos...da forma como as relações se tornaram menos estáveis. Eu então juntei algumas ideias que tinha na cabeça e estruturei uma história que se enquadrou muito bem com a ideia do João e assim nasceu a “Clara ou a Cinderela dos tempos modernos”. Esta história relata as várias fases de um relacionamento que Clara e o Tozé ( o outro protagonista desta história) iniciam neste livro.É um casal muito peculiar e engraçado..sobretudo porque têm uma forma de mostrar o que sentem muito transparente e o leitor pode “espiar” todos os momentos desta relação sem que nada seja ocultado.

Como é a experiência de escrever um livro “a meias”?
Estranha... mas sobretudo muito interessante. Esta escrita partilhada acontece com cada um dos autores a mostrar a sua visão dos relacionamentos... com um olhar diferente... Cada um de nós criou uma história distinta, mas todas elas unem-se em torno da mesma mensagem. Por exemplo a minha história foca a ideia de que já não existem homens perfeitos,nem relações de contos de fadas...que nada é eterno. Já a história do Pedro Miguel Rocha, fala na interferência do mundo virtual num relacionamento ...a história do João Pedro Duarte fala em relações abertas,onde dois apaixonados vivem relações paralelas fugindo do amor que sentem um pelo o outro.Finalmente a história do Miguel Almeida atira-nos para a rejeição da velhice...do medo de perder a capacidade de amar e de dar prazer ao outro. No entanto todas as histórias falam de casais.. de pessoas relacionadas umas com as outras em relações estranhas,dificeis mas apesar de tudo muito divertidas e até profundas.

Onde vais buscar a tua inspiração?
Aos sentimentos.... é dentro de mim e de tudo o que eu sinto que encontro a minha inspiração para criar.

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
O meu processo criativo é caótico... não existe uma organização das ideias que passo para o papel. Geralmente sou impulsionada para o papel quando algo mais forte é sentido dentro de mim. Tenho alguma dificuldade em criar algo pré-concebido ou rotulado. Gosto mais de criar gritos... palavras que sinto que preciso de soltar. Claro que isto acontece muito devido ao facto de ser uma apaixonada pela poesia. Porque a poesia nasce muito em mim como um prolongamento das minhas vivências...das minhas próprias experiências.

Quais são as tuas referências literárias?
Não posso dizer que tenha referências literárias muito rígidas …. os meus gostos literários variam muito consoante a fase sentimental que atravesso. Mas posso citar alguns escritores que leio com prazer e admiro, por exemplo aprecio imenso Haruki Murakami por todo o universo criado nos seus contos, leio bastante Luís Sepúlveda e Isabel Allende.Já na vertente da poesia sou desde sempre uma apaixonada por Florbela Espanca,Pablo Neruda e Herberto Hélder. No entanto também gosto de ler um pouco dos novos talentos na escrita que vão surgindo e marcando o seu próprio estilo.

Qual o teu livro preferido?
Neste momento Kafta à beira mar do Haruki Murakami... apaixonei-me por completo por este livro assim que o comecei a ler.Foi amor à primeira página...e depois deste amor nunca mais larguei este autor.

Qual a tua citação preferida?
Não sou muito de ter citações preferidas.. Acho que o pensamento de uma pessoa deixa de ter a mesma força quando é conjugado por outra pessoa que não seja aquela que o criou. Mas existe um provérbio popular que me tem acompanhado em vários momentos da minha vida: “Quem semeia ventos,colhe tempestades”. Talvez pela riqueza desta expressão que engloba tantas verdades com que nos debatemos nas nossas relações, na nossa forma de ver o mundo como um universo que nos devolve de alguma forma todos os nossos gestos..os gestos bons que nos influenciam positivamente e os maus que nos acabam sempre por prejudicar.

Qual foi o último livro que leste?
Ainda estou a ler, tenho na minha mesinha de cabeceira por acabar o Elefante Evapora-se de Haruki Murakami. E tenho em lista de espera o livro “O último voo do flamingo” do Mia Couto.

Se tivesses de escolher uma banda sonora para acompanhar a leitura de “Já não se fazem homens como antigamente” qual seria?
Uma banda sonora...deixa ver. Eu raramente ouço música quando leio e quando ouço coloco a minha playlist de músicas preferidas a tocar de forma aleatória...deve andar por lá músicas dos Interpol, PJ Harvey,Noah and the Wales e muitas outras.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Ter saúde e continuar cercada pelas pessoas que mais amo.Acima de tudo desejo nunca perder a capacidade de dar forças aos amigos quando precisam de mim...desejo nunca perder a capacidade de sonhar e de me exprimir através das palavras.Podia dizer que faço muitos planos para o futuro ou que traço muitos objectivos pela vida fora, mas a vida tem-me mostrado que é mutável a uma velocidade super-sónica.Não há nada que seja eterno ou dure para sempre..por isso vou-me adaptando aos momentos que encontro na minha vida. Aqueles momentos que são importantes para mim,que me apaixonam eu agarro com força e luto por eles Na escrita, guardo um projecto de um livro infantil que ainda preciso amadurecer , mas que espero num futuro próximo conseguir partilhar.

1 comentário:

blueiela disse...

Obrigado Marta pela possibilidade de falar um pouco sobre mim e dos meus devaneios de escrita:)
Adorei a entrevista.


beijinhos

Daniela Pereira